
Qual o papel da nutrição no tratamento das doenças renais crônicas?
O papel da nutrição é fundamental no tratamento das doenças renais crônicas, uma vez que uma boa prática nutricional vai facilitar o trabalho vital que os rins exercem para o organismo humano.
Dentre as funções desempenhadas pelos rins, podemos destacar:
- a remoção de substâncias nocivas resultantes do metabolismo (como uréia, amônia, ácido úrico etc.);
- a manutenção do equilíbrio hidroeletrolítico (eliminando o excesso de água, sais e eletrólitos, evitando edemas e alterações da pressão arterial);
- a produção de hormônios (como eritropoietina, vitamina D, aldosterona, renina, etc.);
- a regulação do equilíbrio ácido básico, mantendo constante o pH sanguíneo. (Kidney Disease Outcomes Quality Initiative (KDOQI), 2000).
A doença renal crônica (DRC) consiste, geralmente, na perda lenta, progressiva e irreversível da função renal, de tal forma que, em sua fase mais avançada, os rins não conseguem manter a normalidade do meio interno do paciente, que necessita, portanto, de procedimento dialítico ou transplante renal (KDOQI, 2000).
A DRC é classificada em cinco estágios, de acordo com a evolução e gravidade da doença, conforme tabela abaixo. Intervenções nutricionais devem ser iniciadas a partir do estágio 2.

Os principais fatores de risco para DRC incluem diabetes mellitus não controlada (constantes episódios de hiperglicemia) e hipertensão não controlada, portanto, o controle da glicemia e da ingestão de sódio nunca devem ser negligenciados no atendimento nutricional para que, entre outros desfechos, o quadro não leve a perda da função renal (KDOQI, 2000).
Quando a DRC é diagnosticada, outros fatores devem ser levados em consideração já que estes pacientes apresentam risco aumentado para distúrbios nutricionais e metabólicos que incluem: desnutrição energético-proteica, obesidade, hipovitaminose, acúmulo indesejável de eletrólitos e de resíduos metabólicos (Ikizler TA & Cuppari, 2021).
Assim, a promoção de cuidados nutricionais adequados para estes pacientes é fundamental para prevenir e/ou minimizar tais complicações, além de controlar riscos para desfechos desfavoráveis (Ikizler TA, 2020).
Depois de 20 anos da publicação do KDOQI pelo National Kidney Foundation (NKF), foi recentemente publicada a nova versão desta diretriz, com atualizações para o tratamento nutricional de pacientes com DRC.
A nova diretriz traz atualizações quanto a avaliação nutricional, terapia nutricional, recomendações de macronutrientes, suplementação nutricional, micronutrientes e de eletrólitos (Ikizler TA, 2020).
Cuidado com o controle do potássio

https://vivesanobrasil.org/pb/desafios-no-atendimento-nutricional-de-pacientes-com-doenca-renal-cronica/Pacientes com perda de função renal tendem a não excretar de forma adequada o potássio. Por este motivo, em muitos casos, o consumo de alimentos fonte de potássio é restringido na dieta, com o intuito de não elevar os níveis deste mineral no sangue.
O potássio aumentado, ou a hipercalemia, pode trazer problemas graves aos pacientes, como arritmias, descontrole neuromuscular e inclusive a parada cardíaca (Pun et al, 2011).
Diferente do que muitos pensam, as fontes de potássio na dieta não se resumem às frutas e hortaliças, sendo que alimentos como as carnes vermelhas, brancas, frutos do mar, entre outros alimentos, também contêm grande quantidade de potássio (Cupisti et al, 2018).
Ainda, nem todas as frutas ou hortaliças são consideradas ricas em potássio, e as verduras e legumes podem ser cozidas em água para auxiliar na redução de potássio do alimento (Yeung et al, 2019).
Nos últimos anos pesquisadores vêm observando que, em muitos casos, a restrição de frutas e hortaliças em pacientes com doença renal crônica (DRC) são mais elevadas do que o necessário, e a questão que surge é se seria realmente necessário restringir de forma tão expressiva alimentos saudáveis como frutas, verduras e legumes (Ramos et al, 2021; Yeung et al, 2019).
Importante ressaltar que não só a dieta pode causar hipercalemia, constipação, diabetes mellitus e acidose metabólica, também são alguns dos fatores que podem aumentar o potássio sérico de pacientes com DRC e, portanto, sempre devem ser levados em consideração antes de restringir o potássio na dieta (Ramos et al, 2021; Yeung et al, 2019).
Autora: Dra. Maria Fernanda Naufel
Quer aprender mais sobre esse assunto onde a intervenção nutricional faz toda a diferença no prognóstico do paciente?
Não perca nosso Workshop Desafios no atendimento nutricional de pacientes com doença renal crônica, com a Profa Dra. Lilian Cuppari, uma das maiores autoridades mundiais no assunto!
Data: 19/03/2022
Referências
Ikizler TA & Cuppari. The 2020 Updated KDOQI Clinical Practice Guidelines for Nutrition in Chronic Kidney Disease. Blood Purif. 2021;50(4-5):667-71.
K/DOQI Clinical Practice Guidelines for Nutrition in Chronic Renal Failure. Am J Kidney Dis 35:S17-S104, 2000.
Ikizler TA, Burrowes J, Byham-Gray L, Campbell KL, Carrero JJ, Chan W, et al. The 2020 Updated KDOQI Clinical Practice Guidelines for Nutrition in Chronic Kidney Disease. 2020;76(3):S1-S107.
Cupisti A, Kovesdy CP, D’Alessandro CD, Zadeh KK. Dietary Approach to Recurrent or Chronic Hyperkalaemia in Patients with Decreased Kidney Function. Nutrients. 25;10(3):261. 2018. DOI: 10.3390/nu10030261
Pun PH, Lehrich RW, Honeycutt EF, Herzog CA, Middleton JP. Modifiable risk factors associated with sudden cardiac arrest within hemodialysis clinics. Kidney Int. 79(2):218-27. 2011. DOI: 10.1038/ki.2010.315
Ramos C, González-Ortis A, Espinosa-Cuevas A, Avesani CM, Carrero JJ, Cuppari L. Does dietary potassium intake associate with hyperkalemia in patients with chronic kidney disease? Nephrol Dial Transplant. 9;36(11):2049-2057. 2021. DOI: 10.1093/ndt/gfaa232
Yeung SMH, Vogt L, Rotmans JI, Hoorn EJ, Borst MH. Potassium: poison or panacea in chronic kidney disease? Nephrol Dial Transplant. 1;34(2): 175:180. 2019 DOI: 10.1093/ndt/gfy329